ainda construção e já é ruína”
(Fora de Ordem, de Caetano Veloso)
O governo acordou, mas não se pode dizer que o perigo está de todo descartado. Até mesmo porque a providência para evitar o desastre é apenas uma espécie de paliativo emergencial para não deixar que outro importante exemplar da moderna arquitetura brasileira existente em Salvador, o Centro de Exposições do Centro Administrativo da Bahia (CAB), tenha o mesmo destino do Centro de Convenções, que desabou parcialmente no dia 23 de setembro de 2016 e até hoje exibe suas ruínas como um vistoso monumento à incúria governamental.
Na terça-feira passada, 1º, o site Bahia Notícias revelou que a Secretaria de Administração do Estado contratou por R$ 1.781.921,96, mediante dispensa de licitação, uma empresa especializada para realizar o escoramento emergencial da estrutura do “Prédio da Balança”, como o Centro de Exposições é conhecido. Escoramento, como bem sabe o ilustrado leitor, é uma operação emergencial para impedir o processo de desarticulação ou desabamento de uma construção.
Nos dois casos, a deterioração dos prédios foi provocada pela falta de manutenção. No caso do Centro de Convenções, foi essa a conclusão do laudo do Departamento de Polícia Técnica. Já no caso do Prédio da Balança, a contratação da operação de escoramento fala por si: se vai escorar é porque está prestes a cair.
O Centro de Exposições foi construído em 1974 e tem projeto do arquiteto João Filgueiras Lima (1932-2014), mais conhecido como Lelé, que também assina outros icônicos edifícios do CAB. São dele o projeto da Igreja da Ascensão do Senhor (tombada em 2020 como patrimônio cultural de Salvador) e os das cinco plataformas pré-moldadas que abrigam a Governadoria, o Tribunal de Contas do Estado, algumas secretarias e outros órgãos estaduais.
O edifício foi executado em concreto aparente armado moldado “in loco”, fica suspenso cinco metros acima do solo e se desenvolve em balanços simétricos de volumes invertidos, engatados em duas torres laterais idênticas, de onde partem tirantes que colaboram na estabilidade. Por isso, ganhou da população o nome de “Prédio da Balança”.
É integrado por um salão para exposições e um anfiteatro com capacidade para 50 pessoas. No térreo fica a recepção e no subsolo dependências dos funcionários e as áreas técnicas, como a torre de refrigeração e a subestação de energia. O acesso ao piso superior dá-se por uma escada e um elevador, instalados em cada uma das duas torres.
O Prédio da Balança é um clássico da chamada arquitetura brutalista (o nome vem do termo francês “béton brut”, ou seja, “concreto bruto” em português), estilo surgido na década de 1950, caracterizado pelo uso do concreto aparente, linhas retas e formas geométricas. Ganhou destaque no Brasil, tornando-se uma das expressões de nossa moderna arquitetura – em Salvador, outro exemplar do brutalismo é o prédio da Faculdade de Arquitetura da Ufba, projeto do baiano Diógenes Rebouças (1914-1994).
Os problemas com o Prédio da Balança, na verdade, não são de agora. Em matéria publicada pelo jornal A Tarde em novembro de 2007, o engenheiro Antônio João Leite já dizia que a edificação necessitava urgentemente de uma inspeção aprofundada na sua estrutura. Ele chamava atenção, sobretudo, para os quatro tirantes que ajudam na sustentação da estrutura. “Um possível rompimento de um destes cabos comprometeria o edifício em sua totalidade” alertava, defendendo inspeções na estrutura do edifício.
Na mesma matéria, o então secretário estadual de Administração, Manoel Vitório, dizia desconhecer “a existência de qualquer risco específico” no prédio” e garantia que o governo fazia inspeções e manutenções periódicas em todo o patrimônio do Estado.
Parece que não era bem assim. Passados 17 anos, esse importante patrimônio arquitetônico baiano está com sua estrutura ameaçada e precisando ser escorado em caráter de emergência. Já que não cuidaram, escorem. Escorem pelo amor de Deus!