No início desde ano de 2025, pelo menos três famílias em Feira de Santana enfrentam a dor do luto por perder um ente tragicamente para assaltantes. Os casos de latrocínios registrados nos bairros Tomba, Lagoa Salgada e Lagoa Grande revelam cada vez mais a insegurança que as pessoas comentam o tempo inteiro. São três vítimas, três pessoas que foram amigos, um pai, um irmão, brutalmente assassinadas após serem roubadas por algum criminoso.
O primeiro caso ocorreu no dia 9 de janeiro, no bairro Lagoa Grande, onde Edson Fabio Santos Miranda, de 50 anos, foi alvejado e não resistiu aos ferimentos. O segundo aconteceu no dia 16, no bairro Tomba, quando o pedreiro Jocivaldo Santana da Cruz, de 37 anos, foi morto por homens que levaram sua bicicleta.
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O mais recente, na última quarta-feira (15), vitimou Vinícius Moreira de Souza, de 28 anos, que teve sua vida ceifada enquanto pedalava, em um trajeto que ele já fazia frequentemente na avenida Noide Cerqueira. O jovem teve a morte cerebral confirmada no último sábado (18). Em um ato de amor e generosidade, a família resolveu doar seus órgãos.
“A segurança pública fica nesse conflito de quem é a responsabilidade da segurança se é do governo federal, se é do governo estadual, se é do governo municipal. Você só encontra a segurança pública em blitz, nós não temos uma segurança preventiva”, desabafou o pai, Vilobaldo Saturnino de Souza, em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta segunda-feira (20).
Para ele, a dor da perda é ainda mais profunda quando se tem a falha nas estruturas de segurança da cidade, porque é mais uma tragédia que poderia ter sido evitada. “Se alguém fizer isso agora (projeto de segurança em áreas de lazer da cidade), eu espero que alguém faça, mas para passar esse projeto, vai ter que passar um outro projeto que beneficie um determinado grupo. Eu sou apolítico. Não sou político, eu tenho a mesma visão do meu filho, não gosto de notariedade, mas não tem como ficar calado num momento desses”.
Vilobaldo não hesitou em criticar a falta de planejamento na cidade, especialmente no projeto da avenida Noide Cerqueira onde o crime ocorreu. Segundo ele, a entrega da avenida como um projeto de lazer, sem a devida estrutura de segurança, reflete a falta de um planejamento adequado por parte das autoridades.
“A Noide nos foi entregue como um espaço de lazer em nenhum momento cobramos e nem os órgãos públicos nos apresentou um projeto de segurança pública para a Noide. Nós temos a guarda municipal que não passa na Noide, a guarda municipal armada é só para trânsito, não tem guarda municipal fazendo outra coisa, a polícia, não quero culpar ninguém, é para fazer blitz, não é preventiva, não temos um policiamento preventivo”.
Álvaro Souza Amaral, amigo de Vinícius também participou da entrevista ao Acorda Cidade e destacou a importância de cobrar mais segurança dos políticos, independentemente de qual seja o partido ou seus candidatos.
“A sociedade precisa saber pedir o que ela quer ao político, ao governante, independentemente de quem esteja lá. Se o governante está lá, é o que eu não votei, ou é que eu votei, não me importa, a gente quer segurança. A gente quer mais polícia na Noide, iluminação, a gente precisa saber disso para gente olhar e falar o que a gente quer. Quantas pessoas mais inocentes e boas vão ter que perder a vida”.
A prisão dos suspeitos do assassinato de Vinícius, ocorrida em menos de 36 horas após o crime, não trouxe consolo para o pai. Ele declarou que a resposta da justiça não repara a perda irreparável que tiveram. Três homens são suspeitos de participar da morte do jovem.
O pai de Vinícius também falou sobre a expansão da violência no país, que, segundo ele, não é algo exclusivo da cidade, mas sim uma contínua transformação de comando do crime organizado. São anos e anos que o país segue sendo assombrado com a violência e Feira de Santana não é diferente, pior, se destaca entre diversas cidades do país.
“O que está acontecendo aqui é algo de responsabilidade de todos. Não tem como resolver isso hoje. Esse Brasil deveria ser repensado há cinquenta anos atrás. Só com uma alusão aos acontecimentos do Rio de Janeiro, 50 anos atrás, não mudou nada. Os caras, por não ter mais espaço no Rio, estão invadindo a Bahia, como invadiram o Espírito Santo. Feira de Santana está entre as 50 cidades mais violentas do mundo. O Brasil tem mais de 5.600 municípios. Feira é a nona mais violenta do Brasil”, afirmou ao Acorda Cidade.
Vilobaldo também falou sobre o problema dos valores familiares, onde a falta de cuidado e orientação adequada para muitos jovens contribui para o aumento da violência. É a falta de educação familiar, mas também escolar. É a violência que tira esses jovens cada vez mais cedo das escolas.
“A principal plataforma que elege hoje é a segurança. Não quer dar jeito, porque é a principal. Educação, saúde e segurança. Agora os projetos são só falácias, quando se assume, não tem. Quem cuida da Noide, a prefeitura ou o governo? É a mesma coisa que acontece com a Lagoa. Esse impasse que faz com que se criem mais assassinos. A mãe do menino (adolescente que matou Vinícius) diz que o filho não vai para o colégio, não estuda; Mas não estuda por que? É culpa de quem? Ele não estudar, não é culpa do governo. É culpa dos pais que fazem ele não ir para o colégio. Não têm valores para que os filhos percebam a necessidade de ir para o colégio”, declarou em entrevista.
Ele também criticou a falta de políticas públicas eficazes para recuperação dos jovens infratores, apontando que, ao invés de serem reintegrados à sociedade, muitos saem pior das instituições para jovens infratores.
“Eu procurei no Google estatísticas de recuperação dos jovens que vão para esses internados. Não tem estatísticas de recuperação. Na minha opinião, lá ele sai graduado no crime organizado. Ele é forte, ele matou, ele é um cara, vamos botar esse cara aqui. Então, não tem estatísticas de recuperação das pessoas que vão para esses internados. No dia que ela quiser ver o filho dela, ela vai lá e encontra. Daqui a dois anos, que ele tem dezesseis, ele vai sair sem nenhuma mácula na ficha da segurança pública dele”, declarou o pai.
O discurso de Vilobaldo se estendeu à necessidade de uma cobrança constante aos governantes que, segundo ele, tratam a segurança pública como uma bandeira eleitoral, sem compromisso real com a população. É a dor das famílias barganhada para alguma promessa de campanha que não terá reais ações para modificar uma estrutura de ciclos de violência.
É preciso lutar, por justiça, por segurança para que casos brutais como o de seu filho, não vitime tantas outras vidas como a sua e a do próprio adolescente que já está no mundo da criminalidade. A a mudança não virá apenas de ações governamentais, mas também da reconstrução de valores que promovam o respeito entre todas as pessoas.
Para este pai que acaba de perder um filho, sem isso, o Brasil continuará repetindo erros que poderiam ter sido evitados há décadas.
“Nós, como sociedade, exigimos, não é cobrar necessariamente com protesto. Não é um momento desse para ir à rua fazer o protesto. É uma cobrança permanente, uma vigilância permanente. Os legisladores, as câmaras federais, municipais, estaduais, eles que fazem a lei, não fazem a lei com visão da sociedade. As leis que eles fazem visam interesses particulares. Não é um problema do executivo, é um problema dos legisladores. As leis são feitas de forma equivocada, não para resolver um problema da sociedade”.
Ouça a entrevista completa de Vilobaldo Moreira de Sousa, pai do jovem assassinado, abaixo:
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