Para além do 8 de março: conheça histórias de mulheres que inspiram o ano inteiro

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Foto: Colagem / Acorda Cidade

Todos os anos, com a aproximação do final do mês de fevereiro, muitas pessoas se empolgam com o Dia Internacional da Mulher. A expectativa para o 8 de março muda a fachada das lojas, aquece o comércio de flores e é um bom gancho publicitário para os anúncios de produtos femininos.

Mas se tem uma coisa que quase todo mundo está cansado de ouvir nesta data é “dia da mulher é todos os dias”. A frase, que pode parecer uma resposta pronta e despretensiosa, é na verdade, um alerta para a importância de valorizar o gênero feminino e combater qualquer tipo de violência contra as mulheres de 1º de janeiro a 31 de dezembro.

Por este motivo, o Acorda Cidade resolveu contar a história de resiliência e superação de três mulheres de Feira de Santana. Seja vencendo a dor profunda do abandono, quebrando limites pessoais ou tocando o legado social de uma avó, elas são motivo de orgulho durante todos os dias do ano.

I – Vencendo uma dor profunda

Quem vê Ana Paula de Jesus preparando uma deliciosa crepioca, com um belo sorriso no rosto, não imagina que a empreendedora conviveu por muitos anos com o sentimento de abandono. A dor profunda se enraizou durante a infância difícil.

Ana Paula de Jesus
Ana Paula de Jesus | Foto: Arquivo Pessoal

“Fui criada pela minha avó paterna e algumas tias, porém minha mãe sempre nos visitava. Éramos muito amigas, e ela apenas me comunicou que um dia voltaria para me buscar para morar com ela. Depois desse dia, nunca mais a vi”, disse.

Sabor amargo

O episódio fez com que a imagem do ideal de mãe que a jovem tinha na cabeça, como sinônimo de cuidado, proteção e dedicação, fosse quebrado por um processo de sucessivas perdas e privações, colocando Ana Paula em uma situação de vulnerabilidade e exposição ao sentimento de exclusão.

“Isso gerou em mim vazio, dor, saudade. Eu tive uma infância cheia de traumas, era obrigada a comprar bebidas e cigarros para adultos. Na adolescência, eu era muito revoltada, andava com más amizades. Foi quando comecei a frequentar a casa da minha amiga e fiquei observando como era bom ter uma mãe. Eu ficava com meus olhos compridos, querendo ter uma mãe que me amasse, que cuidasse de mim”, disse a empreendedora.

Ana Paula contou que os efeitos do abandono foram se transformando em uma “bola de neve”. Ela se tornou uma pessoa compulsiva financeiramente, na tentativa de fazer com que algum bem material suprisse o vazio que carregava por ter sido abandonada pela própria mãe.

“Eu estava sempre em busca de algo, e isso não estava me fazendo bem, aquelas humilhações a que era submetida todos os dias. Eu tinha até um jargão que sempre dizia: ‘Eu sou a terceira pessoa depois de ninguém’. Depois de um tempo, percebi que o meu emocional era um saco de lixo, e foi aí que precisei buscar ajuda de um profissional e me apegar a Deus. Foi quando resolvi virar essa página na minha vida e seguir em frente sem olhar para trás”, disse.

Um novo tempero

Ana Paula revelou que, após se casar, buscou ajuda profissional adequada e viu na cozinha a possibilidade de trabalhar todos os traumas internos que carregava. Muito mais do que uma história de superação financeira, a vida da fundadora da Amalu Creperia Francesa é um exemplo de superação interna.

“As minhas colaboradoras, cada uma com suas lutas e sonhos, veem na minha história de vida uma referência. Hoje eu sinto um sentimento de conquista, resiliência, coragem e fé. Eu vou seguir com Cristo Jesus na minha vida e pedindo a Deus sabedoria para que eu possa manter esse coração que eu tenho, porque é ele que me conduz todos os dias da minha vida para perseverar e acreditar nos meus sonhos”, finalizou Ana Paula.

II – Quebrando os próprios limites

A história da feirense Vacilene Ramos, de 42 anos, é mais um testemunho do que a determinação pode fazer na vida de uma pessoa. Após uma gravidez, ela viu a própria autoestima ser destruída após ganhar peso.

Vacilene Ramos
Vacilene Ramos | Foto: Ney silva / Acorda Cidade

“Eu praticamente nem me olhava no espelho, porque não me sentia bem e as roupas eram difíceis de encontrar. Uma vez, fui comprar um vestido e simplesmente só encontrei um, porque a maioria não cabia em mim”, disse.

Após passar por vários episódios que a faziam se sentir mal, Vacilene tomou a decisão de enfrentar sua maior inimiga: ela mesma. Pesando mais de 100 kg, ela decidiu que iria transformar a própria vida e começou a praticar corrida regularmente, uma das atividades físicas mais indicadas pelos médicos.

“No início, foi muito desafiador, principalmente a falta de conhecimento, que eu não tinha. Tive que fazer esse emagrecimento de forma individual. Aliado à corrida, modifiquei 90% da minha alimentação”, disse Vacilene.

Correndo da negatividade

A rotina baseada em uma alimentação mais saudável e na prática regular de exercícios físicos foi suficiente para que ela perdesse cerca de 50 kg. Mas, muito mais difícil do que lidar com a exaustão ou o cansaço após alguns quilômetros correndo, Vacilene teve que conviver com o descrédito e os comentários negativos.

“Eu creio que 99,9% das pessoas vinham dizer coisas como: ‘Você não vai conseguir’ ou ‘Não estou vendo mudança’. Agradeço muito a Deus, em primeiro lugar, e ao meu professor Vini Brito, que sempre acreditou em mim e me ajudou bastante no processo de emagrecimento”, disse.

O esporte sempre foi uma paixão antiga da corredora. Durante a entrevista ao Acorda Cidade, ela contou que, na infância e boa parte da adolescência, jogava futebol, um gosto herdado do pai. Vacilene revelou que ainda arrisca uma partida com os filhos, mas que, hoje, seu coração bate mais forte pela corrida.

“Já participei de muitas corridas. A última que fiz foi a Maratona de Salvador. Foi um presente que me dei. Pela primeira vez corri uma maratona, graças a Deus. Só de terminar o percurso de 42 km já foi uma vitória”, disse.

Em direção ao sucesso

E quem começou correndo apenas para vencer os próprios limites, hoje é companhia para muitas pessoas. Vacilene percebeu que era possível mudar o estilo de vida com determinação e, por isso, resolveu criar um projeto para incentivar outras mulheres a se desafiarem também.

“A ideia surgiu a partir da vontade de levar para elas a minha experiência de viver novamente, de se reencontrar com mulher. Quero mostrar que elas têm a capacidade de mudar, independentemente da rotina, que eu sei que muitas vezes é complicada. Hoje, a mulher não se prioriza. Ela cuida de todo mundo e esquece de cuidar de si mesma. Sendo que ela deveria primeiramente cuidar de si, pelo menos alguns minutos por dia. Isso faz uma grande diferença, tenho certeza”, finalizou a maratonista.

III – Tocando em frente o legado de uma avó

A Associação Luísa Araújo do Carmo, em Feira de Santana, oferece de forma gratuita, cursos de teatro, dança, música e informática para jovens e adolescentes. A entidade também presta suporte especializado no campo da psicologia e psicopedagogia às crianças e realiza a doação de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade.

Marta Santos
Marta Santos | Foto: Arquivo Pessoal

A professora Marta Santos é a atual presidente da associação, que sobrevive, em grande parte, da ajuda de voluntários. Como se não bastasse ocupar um cargo tão relevante na gerência de uma unidade que presta serviços à comunidade, a professora vê o nível de responsabilidade dobrar ao saber que hoje ocupa o cargo que foi da própria avó.

“A ideia da minha avó era ajudar o próximo, ajudar a comunidade. O objetivo dela foi fundar esta associação para fazer este trabalho com pessoas da comunidade. Em 1960 ela começou a estudar essa ideia, depois teve um sonho, começou a idealizar e colocou no papel, sem ter muito conhecimento. E, graças a Deus, ela foi buscar ajuda e conseguiu registrar a associação”, disse Marta.

Uma grande mestra

A professora contou que um dos motivos que a fazem sentir muito orgulho é saber que está tocando em frente o legado da avó. Em entrevista ao Acorda Cidade, ela lembrou que via a matriarca da família ter disposição para enfrentar as dificuldades, um segredo que utiliza até hoje para superar os desafios do dia a dia.

“São vários desafios para manter um trabalho como este. Tem o desafio de ser mulher, a questão do preconceito, da ideia de inferioridade, mas nós estamos levando, buscando conhecimento, parcerias e colaboradores para seguir em frente. O desafio vai existir sempre, mas também há vitórias”, disse a professora.

Se doar ao próximo

Marta revelou como é gratificante saber que está seguindo os passos de alguém tão especial. A professora afirmou que se sente feliz ao reencontrar pessoas que foram assistidas na infância pela associação.

“A gente vê as crianças, hoje adultas, pessoas que já passaram por aqui e, atualmente, têm emprego, fizeram faculdade, são psicólogas, enfermeiras, advogadas, e voltam para fazer trabalho voluntário aqui. Essa é a resposta do nosso trabalho. É a continuidade do que a minha avó fez. Estamos aqui ajudando as crianças a serem bem educadas, bem formadas, dando suporte às famílias, estruturando, oferecendo conhecimento e apoio. É isso que tem que ser feito, era o que ela queria”, disse.

A presidente revelou que seu maior sonho hoje é um dos poucos que a avó não conseguiu realizar em vida: ver a associação ter uma sede própria. Marta explicou que trabalha todos os dias para concretizar esse objetivo e, assim, honrar mais uma vez a memória da avó.

“Toda criança que passa por um trabalho social, por uma associação ou uma ONG, e é bem acolhida, tem um resultado muito bom lá na frente, bem significativo. Então, é importante, sim, esse trabalho do terceiro setor. Eu me sinto realizada em fazê-lo e faço com todo o amor e generosidade que tenho, porque sei que é necessário e sei que há pessoas que precisam ser acolhidas”, finalizou.

Formas de ajudar

Para ajudar a Associação Luísa Araújo do Carmo, entre em contato através do WhatsApp (75) 99239-0544 ou pelo telefone (75) 98134-3061. A entidade fica localizada próximo à Escola Municipal João Marinho Falcão, na Rua Antônio Barros Moreira, nº 91, Bairro Olhos d’Água, em Feira de Santana.

Com informações do repórter Ney Silva e da jornalista Iasmim Santos

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