O desafio da oposição no jogo eleitoral da Bahia para 2026

Com o encerramento das eleições municipais e a aproximação de mais um ano eleitoral, os olhares já se voltam para 2026. Do lado governista, surge a possibilidade de formar uma chapa “puro sangue”, considerada por muitos “imbatível”, com o senador Jaques Wagner (PT) e o ministro Rui Costa (PT) disputando uma vaga no Senado Federal, e o governador Jerônimo Rodrigues (PT), candidato à reeleição ao governo. No grupo carlista, fortalecido com vitórias em importantes redutos eleitorais, como Lauro de Freitas, Feira de Santana e Vitória da Conquista, além da vitória esmagadora na capital, com o prefeito Bruno Reis (UB), a expectativa é de que os erros de 2022 não se repitam, com uma oposição mais madura e articulada, liderada pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (UB).

Em primeiro plano, é importante lembrar que, enquanto o ministro Rui Costa esteve à frente do Executivo estadual, especialmente após a vitória arrasadora de 2018, quando obteve mais de 75% dos votos contra o então candidato José Ronaldo (UB), de Feira de Santana, ele encontrou terreno fértil para consolidar seu slogan “correria”. Impôs um ritmo acelerado de trabalho nos municípios baianos, enquanto a oposição se encontrava em um vácuo de ações e fiscalizações. Isso resultou em uma aprovação recorde de Rui, que se consolidou como um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo, contribuindo diretamente para a eleição do seu sucessor, sobressaindo ao desgaste do grupo que permanecia há mais de 16 anos no poder.

É notório que, apesar de a Bahia liderar o ranking dos estados mais violentos do país, conforme dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública – um fato evidenciado diariamente em diversos noticiários –, e de o sistema de regulação ser alvo constante de duras críticas devido à lentidão na assistência médica à população, esses temas não ganharam a devida repercussão entre o eleitorado. Além disso, não reverberaram nas urnas, principalmente por terem sido explorados de forma tardia, já no ano da eleição de 2022. Isso deu um tom de oportunismo eleitoral, facilmente refutado pelo grupo governista, que minimizou tais questões como problemas comuns a todo o país. Nesse sentido, a oposição precisa se afirmar com solidez desde já, como o ex-prefeito de Salvador tem feito publicamente. O exemplo mais recente foi na semana passada, quando repercutiu em tom crítico um vídeo em que o governador deu as costas ao ser questionado sobre a violência na Bahia.

Ademais, adentrar nos tradicionais “currais eleitorais” governistas não é tarefa simples. Ao longo da história política recente da Bahia, essa incursão se deu apenas com a adesão de políticos que antes pertenciam ao grupo adversário, como ocorreu na eleição de 1986, quando Waldir Pires contou com a adesão de Nilo Coelho, Rui Bacelar, Luiz Viana Filho e Jutahy Magalhães; e em 2006, quando Jaques Wagner venceu as eleições com o apoio de Otto Alencar e João Leão. Nesse contexto, ACM Neto tem se empenhado na difícil tarefa de atrair o PP em sua totalidade, algo que não ocorreu na eleição anterior, além de iniciar tratativas com o PL de João Roma, seu antigo desafeto, visando 2026. Também tem demonstrado abertura para receber o senador Angelo Coronel (PSD), que busca a reeleição para o Senado e tem enfrentando resistência na ala governista.

Importante ressaltar que, apesar do grupo petista ter vencido em 360 dos 417 municípios baianos na eleição de 2022, ACM Neto mantém predominância em cidades de médio e grande porte, o que pode gerar um “efeito radioativo”, no qual essas cidades e seus representantes políticos exerçam influência sobre os municípios vizinhos de menor porte. Para tanto, Neto conta com um exército de aliados de alta aprovação popular em diferentes regiões, como o prefeito reeleito Zé Coca (PP), em Jequié; o prefeito eleito José Ronaldo (UB), em Feira de Santana; o prefeito de Luís Eduardo Magalhães, Júnior Marabá (PP); e o prefeito de Itapetinga, Rodrigo Hagge (MDB. Dessa forma, a formação de um grupo coeso e fortalecido, menos personalista e com forte influência regional, pode se tornar um trunfo para o grupo carlista.

A política de “tanto faz” em relação à disputa presidencial, que colocou o líder da oposição em uma posição desconfortável ao não se alinhar nem ao lulismo, nem ao bolsonarismo, deve ser superada nas eleições de 2026. Uma possível candidatura do União Brasil ao Palácio do Planalto, apesar da recente frustração com a inelegibilidade do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, será um caminho fundamental.

Portanto, com o acerto dos pontos fundamentais mencionados acima, somado ao fato de que o atual governador petista é, entre seus antecessores, o que apresenta a menor aprovação popular – Jaques Wagner, no mesmo período de gestão, detinha 75% de aprovação, enquanto Rui Costa alcançava 61%, e Jerônimo Rodrigues, atualmente, possui 51% – a oposição pode, finalmente, após mais de 20 anos, chegar ao Palácio de Ondina.

João Vilas Boas é bacharel em Ciência Política, pós-graduado em Gestão Pública, graduando em Direito e Assessor Parlamentar.

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