Monumento à incúria governamental, ruínas do Centro de Convenções já podem sumir da paisagem

“Ai ai, que importa a demolição?
Caem coisas mais importantes
Que ninguém percebe não”
(Demolição, de Juca Chaves)

O mais vistoso monumento à incúria governamental existente em Salvador vai, finalmente, desaparecer, oito anos depois de ter surgido, para vergonha de uns poucos baianos, indignação de outro tanto e indiferença da maioria.

Incúria, como bem sabe a ilustrada leitora, é o mesmo que negligência, descuido, desmazelo, falta de cuidado. E o tal monumento são as ruínas do antigo Centro de Convenções da Bahia, que desabou parcialmente no início da noite do dia 23 de setembro de 2016, ferindo três pessoas.

Laudo emitido pelo Departamento de Polícia Técnica apontou que a queda de parte do primeiro piso do prédio foi resultado da falta de manutenção. Registremos logo: falta de manutenção, no caso, significa descaso dos governos, desleixo dos governantes, incompetência mesmo, para usar palavras suaves – a rigor, o abandono de um bem público como aquele poderia muito bem configurar crime de responsabilidade, pois, como é do conhecimento de todos, edifícios sem manutenção acabam indo ao chão. E foi o que ocorreu.

Só que o Centro de Convenções não era um prédio qualquer. Era o mais importante exemplar da chamada arquitetura high tech na Bahia. Seu projeto foi elaborado pelo escritório carioca MMM Roberto, responsável por alguns dos edifícios mais importantes da moderna arquitetura brasileira, que venceu o concurso público organizado pelo departamento baiano do Instituto dos Arquitetos do Brasil em 1975.

Mais dia menos dia, o prédio acabaria tombado como patrimônio arquitetônico nacional ou, pelo menos, estadual, tal a sua importância – e ganharia, ao menos em tese, a proteção da lei. Não deu. Antes disso começou a ir ao chão, por conta da incúria governamental, que lhe negou a essencial manutenção preventiva e encurtou seu tempo de vida útil.

O autor do projeto estrutural, engenheiro Carlos Emílio Strauch, dimensionou o sistema estrutural da edificação para durar mais de 100 anos. Não durou metade disso. Começou a desabar 37 anos após a inauguração.

Abandonado desde então, transformou-se em ruínas, mas, mesmo assim, ainda impressiona quem passa pela Orla e vê à distância suas torres de concreto armado sustentando a grande treliça metálica.

O governo do Estado até tentou passar o mico adiante, solicitando autorização da Assembleia Legislativa para vender o que sobrou do prédio e o terreno de 153 mil metros quadrados. Mas não deu: o processo esbarrou na objeção da Justiça do Trabalho por conta da penhora do equipamento em um processo trabalhista movido por antigos funcionários da extinta Bahiatursa.

Um acordo entre as partes, recentemente concluído, resultou na suspensão da penhora. Com isso, o terreno e o que restou do prédio – já totalmente depenado e vandalizado – poderão, finalmente, ser leiloados. No valorizado terreno deverão ser erguidos vários espigões e o celebrado exemplar da arquitetura high tech brasileira será apenas matéria de memória. Já a incúria governamental, essa certamente continuará firme e forte.

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