O frei Pedro Júnior, guardião-diretor da Igreja São Francisco, em Salvador, comentou sobre o desabamento de parte do forro do templo. O acidente, que matou uma jovem de 26 anos e deixou outras cinco pessoas feridas, aconteceu um dia antes de uma visita técnica agendada para avaliar a estrutura da construção.
Em entrevista ao radialista Dilton Coutinho, âncora do Programa Acorda Cidade, junto com o Frei Jorge Rocha, superintendente da Rádio Sociedade News FM, o responsável pela popular “Igreja de Ouro” informou que estava de férias quando o fato aconteceu e que, ao chegar ao local ainda no dia do acidente, ficou impressionado com o que viu.
“Ver a igreja daquela forma parecia cenário de guerra. Mas tudo que estava destruído ali, por mais que seja patrimônio, não é pior quanto à morte de Giulia. Nós conhecemos pouco sobre ela, ela tinha acabado de chegar em Salvador, foi ver a igreja, estava acompanhada de amigos e infelizmente isso aconteceu”, disse Pedro Júnior.
Burocracia
Na entrevista, que foi transmitida simultaneamente pelas rádios Caraíba, Interativa, Princesa FM e Sociedade News FM, o Frei explicou que o desabamento ocorreu um dia antes de uma visita técnica que deveria ser feita por integrantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A autarquia federal é responsável por garantir a preservação de um patrimônio tombado, como é o caso da Igreja de São Francisco.
“Na última segunda (3), nós percebemos que tinha um tipo um rasgo no próprio forro que já existia e aumentou. A gente sentiu preocupação e enviou uma carta para o Iphan pedindo uma visita técnica, porque para nós era uma visita para analisar uma rachadura que a gente percebe debaixo, de uma visão leiga do assunto, porque eu não tenho uma visão clara”, disse o Frei.
Pedro Júnior explicou que, por conta das normas estabelecidas pelo Iphan, eles não são autorizados a fazer grandes intervenções no patrimônio tombado. Aliado a essa restrição, a falta de conhecimento técnico sobre a área, pode representar um complicador para solucionar situações semelhantes.
“Não somos dessa área. O que a gente fez foi um procedimento corriqueiro. Se a gente vê alguma falha no imóvel, a gente não pode resolver. A gente tem que informar o Iphan. E aí a gente fez isso. Na segunda passada, eu informei ao Iphan, para chegar até o governo e fazer essa visita técnica. A visita estava marcada, mas um dia antes aconteceu esse desastre. Mas nós não conseguimos medir ou mensurar que aquela fissura viesse a desabar tudo”, disse.
Investigações e novos riscos
O sacerdote explicou que agentes da Polícia Federal (PF) já estavam no local para fazer levantamentos e iniciar a investigação das possíveis causas do acidente. O frei explicou que a parte do forro que desabou era fixada através de um sistema de montagem de peças de madeira intertravadas, sem o auxílio de pregos. Nenhuma obra sacra foi danificada.
“Neste momento, a igreja está interditada, porque o forro central caiu inteiro, com a força algumas peças se separaram, porque eram peças originais, não tinha nenhuma indicação de que aquele teto foi mexido em algum momento. São peças de encaixe que foram separadas do restante e elas também correm perigo. Por isso que os peritos estão verificando esses perigos, para a gente saber até onde a gente pode chegar e até onde a igreja vai ser interpretada”.
A Igreja de São Francisco é um dos templos mais visitados de Salvador, e é conhecida popularmente como “Igreja de Ouro” por conta da presença do metal precioso em obras e no altar. O templo recebe muitos visitantes durante todos os períodos do ano.
“Janeiro e fevereiro são os meses mais fortes para nós. Por conta das férias, nossa igreja é muito bem visitada. Na minha mente, se essa catástrofe tivesse acontecido num momento forte, teria sido muito pior. Durante a missa, imagino o que poderia ter acontecido. No momento que aconteceu, havia 25 pessoas dentro da igreja, nós tivemos 5 feridos e uma morte, que foi a de Giulia”, disse o frei.
Questionado sobre se a igreja entrou em contato com os familiares da jovem turista que morreu no acidente, o frei explicou que a igreja está disponível para prestar todo o suporte necessário à família, mas que, neste primeiro momento, está respeitando o luto e o desejo dos pais em não conversar sobre o assunto.
Reconstrução
Margareth Menezes, Ministra da Cultura, visitou a igreja após o desabamento com outros representantes do governo federal. Segundo o responsável pela igreja, representantes das três esferas do poder, municipal, estadual e federal, estiveram no local prestando solidariedade.
“Os representantes foram muito solícitos com a gente e a ideia é que a gente consiga reconstruir a igreja. A ministra deixou isso a entender, que vai conseguir esse dinheiro, ela não soube explicar de onde seria esse dinheiro, mas através da ajuda também do governo estadual, eles vão fazer essa urgência, essa restauração”.
Grande Desafio
O Frei Pedro Júnior tem 42 anos e há apenas sete é sacerdote. Ele utilizou os momentos finais da entrevista para dedicar uma mensagem de reflexão à família das vítimas e a todos os ouvintes a respeito deste que talvez seja o maior desafio de sua carreira.
“Eu acho que, apesar da catástrofe, apesar da morte de Giulia, que infelizmente não tem mais como reparar, a gente precisa terminar na esperança. Esperança de dias melhores, esperança de que as mídias sociais e a própria TV sejam mais justas. Esperamos que nós, enquanto igreja, possamos nos restaurar também, restaurar o bem e também nos restaurar a partir desse momento. E fica aí um alerta para todas as pessoas que têm nas suas mãos propriedades antigas para que cuidem melhor, para que tenham sempre esse olhar e que, quando o puder não estiver no seu alcance, possa ir até os responsáveis para tal”, finalizou o frei.
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Reportagem escrita pelo estudante de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
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