Gravidez na Adolescência: cresce o número de partos em adolescentes no Hospital da Mulher; foram mais de 800 em 2024

fachada hospital da mulher
Foto: Ney Silva / Acorda Cidade

A gravidez na adolescência é um tema de grande relevância social e de saúde pública, impactando milhares de jovens e suas famílias. Para tratar desse assunto, entre os dias 1º e 8 de fevereiro, ocorre a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, um período dedicado à conscientização e divulgação de informações sobre os riscos e consequências da gestação precoce, além de medidas preventivas.

O Brasil é o segundo país no mundo em número de partos de gravidez na adolescência. Cerca de 400 mil adolescentes de até 19 anos dão à luz por ano no país. No Hospital da Mulher, em Feira de Santana, que possui um ambulatório específico para prevenção da gravidez na adolescência, de acordo com a médica obstetra, Andréa Alencar, mesmo com todas as campanhas e métodos contraceptivos disponíveis, houve um aumento no número de partos de adolescentes no ano de 2024.

“No ano de 2024, tivemos 840 partos de adolescentes até 19 anos, sendo 505 partos normais e 335 cesáreas. Esses números são bastante elevados e o que observamos é que, em relação a 2023, houve um aumento. Em 2023, tivemos uma média um pouco menor. Em relação a partos de adolescentes entre 10 e 16 anos, em 2023 foram 111 partos, já em 2024 foram 141 partos”.

Andréa Alencar destaca que a gravidez na adolescência é um problema sério, considerado de saúde pública, devido ao impacto na vida dos adolescentes. Ela ressalta que os números são preocupantes.

“A gravidez na adolescência é muito impactante para o futuro dessas meninas. As adolescentes grávidas têm maior risco de depressão, parto prematuro, diabetes gestacional e abandono da criança na primeira infância. Além disso, há abandono escolar por parte das adolescentes grávidas, perpetuando o estado de pobreza, pois sabemos que a gravidez na adolescência é mais frequente nas classes mais baixas”, afirmou a média ao Acorda Cidade.

Segundo ela, a evasão escolar é bastante característica em pacientes que engravidam na adolescência, o que traz prejuízos ao longo da vida da mulher. Além disso, ela cita o fator emocional.

“Observamos maior incidência de depressão quando ocorre gravidez na adolescência. Muitas vezes essas adolescentes ficam subjugadas a relacionamentos com pessoas mais velhas por conta de uma gravidez não planejada. São jovens que não estão preparadas para uma gravidez. Além de não estarem preparadas emocionalmente, fisicamente também não estão, já que seus corpos não estão preparados para uma gestação”.

A médica destacou em entrevista ao Acorda Cidade que, para gravidez em adolescentes, deve-se priorizar o parto normal, pois quando uma adolescente é submetida a uma cesariana, aumentam os riscos de infecções, sangramentos e comprometimento do útero para futuras gestações.

Diagnósticos tardios

A médica Andréa Alencar observou ainda que, muitas vezes, as jovens escondem a gravidez da família e, por conta disso, os diagnósticos são dados de forma mais tardia, impactando diretamente na qualidade da assistência pré-natal.

“Elas iniciam o pré-natal mais tarde, muitas vezes já com quadros de anemia e infecção. O momento ideal do pré-natal é perdido, que deve ser iniciado no primeiro trimestre da gestação. Às vezes, por desconhecimento da importância do pré-natal, por estarem escondendo ou por falta de acesso à rede de saúde. Sendo uma paciente com mais riscos, é importante que inicie precocemente seu pré-natal”.

Medidas preventivas

A médica aponta a educação sexual como a ferramenta mais eficaz para prevenir a gravidez na adolescência. Ela destaca que, ao falar em educação sexual, não se trata de incentivar a relação sexual, mas de orientar sobre os riscos de uma iniciação precoce da atividade sexual, que pode levar desde uma doença sexualmente transmissível até uma gravidez indesejada.

“Sem dúvida, a principal medida para reduzir esses números é a educação sexual. Com a devida orientação, a adolescente terá menos chance de engravidar. Se a adolescente já iniciou a vida sexual, o principal passo é fazer planejamento familiar. E temos um planejamento familiar no Hospital da Mulher, dirigido à gravidez na adolescência”, destacou.

Segundo ela, os principais métodos contraceptivos são conhecidos como métodos de longa duração reversíveis, como o Implanon, um dispositivo subcutâneo colocado no braço, com duração de três anos, além dos DIU’s hormonais e não hormonais.

“São métodos de longa duração e alta eficácia, por isso, são os mais indicados para adolescentes. Em Feira de Santana, oferecemos métodos como Diodimirena, Diucalena e Implanon, que são métodos caros e de alta eficiência”, explicou.

Atendimento especializado para adolescentes

Andréa Alencar anunciou que, a partir deste mês de fevereiro, o Hospital da Mulher terá um atendimento especializado para meninas até 19 anos, com uma médica especializada em atendimento para adolescentes.

Reincidência na gravidez

Outro ponto observado pela médica é que muitas jovens que engravidam na adolescência voltam a engravidar antes dos 19 anos.

“Cerca de 32% das adolescentes que têm a primeira gravidez na adolescência engravidam novamente ainda neste período. Comum observarmos jovens mães já trazendo suas filhas adolescentes para ter bebês. Ou seja, a história se repete. Essa mãe que engravidou na adolescência, a filha engravida na adolescência. Cadê a orientação sexual? Cadê o planejamento familiar? Temos acesso nos postos de saúde e no Hospital da Mulher”, afirmou.

Atenção dos pais e responsáveis

Por fim, a obstetra ressaltou a importância dos pais estarem atentos aos filhos e serem acessíveis para tirar dúvidas e conversar sobre sexualidade.

“Não deixem suas filhas à mercê de orientações de colegas, amigos ou outras pessoas. Se o pai, a mãe ou o responsável legal não assumirem o papel de orientar e responder às dúvidas, o adolescente pode receber orientações equivocadas. O responsável deve encaminhar a adolescente para um planejamento familiar e programas de prevenção, como a vacina do HPV, prevenção primária ao câncer de colo de útero”, frisou.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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