Ferro de Engomar – uma história secular com algumas interrogações

ferro de engomar
Foto: Divulgação – Arquivo ZMP

Chegar a um século e ultrapassá-lo é algo marcante na vida de alguém e, em se tratando de um bar e restaurante, muito mais ainda, devido à raridade disso acontecer. Mas, em Feira de Santana, o Bar e Restaurante Ferro de Engomar, cuja denominação também gera curiosidade, está aí desafiando o tempo.

Um século? Na verdade, a idade exata, ou o real tempo de existência, é impreciso. Não há registros, mas 100 anos já ficaram para trás, isso é certo, e ele imutável, permanece firme, até indiferente aos dias e noites, ao sol e à chuva, enquanto tantos outros prédios representativos da antiga Feira de Santana já tombaram perante o progresso. O Bar e Restaurante Ferro de Engomar, solenemente plantado no início da Avenida Senhor dos Passos, parece desafiar o tempo sem se preocupar com o que acontece na cidade, ou com os ferros de passar roupa, que há muito tempo deixaram de ser aquecidos com brasa e carvão queimado.

ferro de engomar
Foto: Divulgação – Arquivo ZMP

Antigos frequentadores e moradores daquela parte da cidade garantem que o bar existe há mais de 100 anos e já viveu fases de esplendor, com intensa movimentação que se estendia até altas horas da noite, com a presença de figuras da sociedade, mas em um clima de tranquilidade, no que pese a animação reinante. A esse mistério cronológico, soma-se outro: a razão do nome do estabelecimento. Para uns, o formato arquitetônico do imóvel.

Construído em uma esquina, o prédio tem formato triangular, parecendo um antigo ferro de passar roupa, provavelmente a forma encontrada pelo arquiteto ou construtor para melhor aproveitar o terreno. Todavia, conforme versões antigas, havia um ferro de engomar pendurado em uma parede do estabelecimento, o que teria gerado o nome. “Encontro você mais tarde, lá no bar!” “Em que bar?” “Lá no bar do ferro de engomar”. Diálogos assim, há 80 anos atrás, ou até mais, podem ter motivado o nome, embora a outra versão também seja crível.

Bolinho de bacalhau, tira-gostos diversificados, lambreta, caldos variados, carne do sol, aperitivos como “caipirinha”, atraíam grande público ao estabelecimento com notoriedade nas décadas de 1960 a 1980, quando o proprietário era Edson, conhecido bancário, caixa do Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais. O local, bem amplo, tornava-se pequeno diante do público refinado que ali acorria, principalmente nos finais de semana, quando ali podiam ser encontrados nomes saudosos como: Modezil Cerqueira, João Ignácio do Vale, Cristovam Carvalho, Noide Cerqueira, Tonheiro, dentre outros.

Um detalhe interessante é que o “ferrinho” praticamente acabou com o preconceito de que ‘mulher não frequenta bar’. A cordialidade e o respeito existentes no ambiente possibilitavam a presença feminina sem intercorrências. Grandes nomes da música brasileira ali eram ouvidos através de uma potente vitrola. Era o tempo de: Ângela Maria, Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Lucho Gatica, e de outros igualmente famosos, bem como dos mambos e boleros da Orquestra Perez Prado e dos sambas e canções com a Orquestra de Waldir Calmon.

Após o falecimento do bancário Edson, o estabelecimento esteve durante algum tempo sob a responsabilidade de Ubaldo Oliveira, que foi lateral direito titular do Fluminense de Feira e do Bahia. Há 20 anos, o Bar e Restaurante Ferro de Engomar foi adquirido por Zilkar Oliveira Silva. Todavia, nos últimos quatro anos, o sistema de funcionamento tornou-se mais restrito. “Depois da pandemia do Covid e com a violência ou insegurança, que vem se verificando em toda a parte, o funcionamento passou a ser mais limitado”, explica Genilda Moreira Barbosa, esposa do proprietário.

Baianos da cidade de Mortugaba, eles viviam em São Paulo com boa experiência no comércio e resolveram vir para Feira de Santana confiantes no perfil do comércio local. Atualmente, o estabelecimento funciona das 8h às 20h, oferecendo lanches, refrigerantes, cerveja, algumas outras bebidas e picolés. Genilda Moreira observa que, devido ao fator segurança, está sendo colocado em prática um sistema de atendimento breve, para evitar que os clientes fiquem expostos, sentados durante muito tempo no local.

Com boa experiência no segmento, adquirida durante anos de trabalho na capital paulista, ela acredita que esse é o melhor sistema para atuar no momento e não vê perspectiva de mudar por enquanto, mas garante que ela e o marido Zilkar Souza estão satisfeitos e vão continuar no centenário Bar e Restaurante Ferro de Engomar, que, na sua opinião, pela tradição “merece mais atenção do feirense. Aqui tem um bom capítulo, um bom pedaço da história da cidade”, observa.

Por Zadir Marques Porto

As informações são da Secretaria de Comunicação Social

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