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O corpo da moradora em situação de rua conhecida como “Morena” foi sepultado nesta sexta-feira (21), no Cemitério São Jorge, em Feira de Santana. A cerimônia, marcada por forte comoção dos amigos, familiares e voluntários, reuniu integrantes do Centro Social Monsenhor Jessé, representantes do Movimento Nacional da População em Situação de Rua e membros do grupo Evangeliza Feira.
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Morena foi brutalmente assassinada em 4 de outubro de 2024, enquanto dormia na região da Praça da Matriz. Desde então, seu corpo aguardava reconhecimento no Departamento de Polícia Técnica (DPT). Durante cinco meses, voluntários do Centro Social buscaram localizar familiares para que o sepultamento ocorresse de maneira digna.
“Nós fizemos tudo para tentar achar um familiar de Morena. Alguém dava uma pista, a gente ia procurar, mas realmente não conseguimos encontrar ninguém”, relatou a psicóloga Nelma Galvão, colaboradora da entidade.
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Para Nelma, hoje é o dia em que ela finalmente foi enterrada, com a presença do Movimento da População de Rua e de pessoas que acompanharam sua trajetória. “Nesse momento, a gente se junta para dar dignidade a esse momento de finalização da vida, do corpo de Morena aqui, porque a gente acredita na vida eterna e sabe que Morena está em paz, no colo de Deus nesse momento.”
Figura conhecida na região, Morena era lembrada com carinho pelos frequentadores do Centro Social Monsenhor Jessé. “Ela era uma querida, uma pessoa que não fazia mal a ninguém. Todo dia passava lá e falava com todo mundo. Não fazia mal a ninguém”, acrescentou Nelma. “O assassinato nos deixou estarrecidos com tamanha crueldade. Uma alma que estava ali sofrida, uma pessoa que estava na rua, necessitando de cuidados da sociedade e não de crueldade.”
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O caso ainda aguarda respostas quanto à sua elucidação. Segundo Edcarlos Venâncio, coordenador do Movimento Nacional da População em Situação de Rua em Feira de Santana, o foco da entidade esteve na garantia de um sepultamento digno. “Essa parte mais voltada para a justiça, nós ainda não sabemos como está o encaminhamento. O que sabemos é que nossa parte, que é a espiritualidade”.
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Venâncio também destacou Morena como uma “referência de afeto, de carinho, de convivência, de diálogo”, que se destacou por sua presença, mesmo com a dura realidade da invisibilidade das pessoas em situação de rua.
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Além de Morena, outro morador que também era considerado como uma pessoa em situação de rua, Valtemir, também foi sepultado nesta sexta. Diferente dela, ele não foi vítima de violência, mas faleceu em decorrência do consumo excessivo de bebida alcoólica. Seu corpo também aguardava identificação há algum tempo.
“Val, como ele é conhecido lá na comunidade, tinha o consumo da bebida, mas o Val tinha uma particularidade, ele era profissional, trabalhador chapista e, na década de 80, que nós somos dessa geração, ele era uma das pessoas que andava com o tênis mais bonito, com as roupas mais bonitas, com o melhor perfume e se desencontrou com a vida”, relembrou Venâncio ao Acorda Cidade.
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Reginaldo de Oliveira, primo de Valtemir, contou que ele viveu parte da vida na vulnerabilidade, andando pelas ruas, mas à noite sempre retornava para dormir em casa. Segundo o parente, ele foi encontrado morto na própria residência.
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“Apareceu morto de repente em casa. Bebia muito, fumava e tudo mais, e se entregou mesmo ao desprezo.” Depois que a mãe morreu, a situação piorou e ele passou a vagar desorientado pelas ruas. “Era um dos melhores chapistas, mas aí se deixou nessa vida de se entregar à bebida.”
O primo explicou que o reconhecimento do corpo demorou porque os parentes mais próximos não tinham documentação, nem ele mesmo conhecia um dos irmãos que também compareceu ao sepultamento.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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