Quem lembra do Cine Íris? O faroeste nas telas foi o sonho de uma geração

Cine íres
Cine íres | Foto: Arquivo Pessoal / Zadir Marques Porto

Lembrar o final da década de 1950 e início da década de 1960 em Feira de Santana significa passar, obrigatoriamente, pelo Cine Teatro Iris. Para a meninada que lia e andava com revistas de farwest, como se fossem livros didáticos, esse trajeto era fundamental nas matinês dominicais. Um sonho que outra geração jamais irá sonhar.

“Baleiro, bala, baleiro, bala”, o pregão do rapazinho com a sua cobiçada cesta de doces e caramelos, misturava-se às vozes juvenis no comércio de revistas de quadrinhos na porta do Cine Teatro Iris, localizado na Avenida Senhor dos Passos, quase esquina com a Rua Carlos Gomes. Um cenário comum todas as tardes de domingo, na parte externa do cinema, como o que ocorria na parte interna, onde os filmes de farwest, na sala de projeção, empolgavam centenas de garotos.

Domingo à tarde, a partir das 13 horas, não havia outro programa para a gurizada (na época, até aos 15 anos podia-se classificar assim). O grito de gol, os dribles, tombos e pequenas confusões nos incontáveis campos de areia existentes a cada rua, a cada terreno baldio, tudo silenciava em favor do bangue-bangue. Bem antes do início da sessão cinematográfica, a meninada estava ali para vender, comprar e trocar revistas, uma verdadeira ‘bolsa de valores’ para quem nem sabia o que isso significava, mas sabia muito bem o valor de uma revista com estórias, ou histórias, do velho oeste.

E enquanto aguardavam o início da sessão, disputavam as revistas com heróis da tela como Cisco Kid, Rocky Lane, Flecha Ligeira, Durango Kid, Zorro, Paladino do Oeste, Roy Rogers, Kit Carson (O Pequeno Sheriff), Cavaleiro Negro, Bat Masterson, Gene Autry, Monte Hale, que galopavam continuamente nas páginas em preto e branco, defendendo os colonos e pessoas do bem contra malfeitores e índios revoltos. Quase sempre, ou sempre mesmo, havia duelos à bala, que paravam as pequenas cidades do velho oeste e também quase paravam os corações dos jovens espectadores, embora já se soubesse que o mocinho, com a sua incomparável perícia no sacar do colt, jamais perderia para aquele bandido fanfarrão e traiçoeiro.

E havia os seriados, geralmente encabeçados por um famoso caubói, tendo como companheiro um veterano e já ‘meio biruta’ que criava situações hilárias e às vezes difíceis para o mocinho galã, mas nada que ele não pudesse resolver satisfatoriamente e continuar com o amigo trapalhão. Os assaltos a bancos e diligências, as lutas entre o exército norte-americano e os índios, o forasteiro que entrava no bar e era provocado por bandidos, o roubo de gado, o olhar significativo entre a mocinha e o estranho, muita coisa se repetia como clichê, mas era um mundo próprio, particular, daqueles meninos que jamais poderiam imaginar-se usando um telefone celular.

O encanto do cinema, podemos usar como referência o grande Cine Teatro Iris, não era só para a criançada. Um enorme público adulto, que era o predominante, muito bem trajado, assistia a filmes românticos, históricos, filmes de aventuras, policiais e cômicos. Mas as matinês de domingo no final dos anos da década de 1950 e início do decênio seguinte jamais serão esquecidas por aqueles que percorreram, na imaginação, as duras trilhas do velho oeste e hoje só se deparam com o asfalto e os avançadíssimos veículos automotivos.

Naturalmente, tudo passou, tudo mudou para melhor. Pode ser verdade, mas os assaltos a bancos dos filmes de farwest, agora, são reais, com novas tecnologias; a violência está instituída, o desrespeito à cidadania idem. Então, muito daquele cenário ficcional hoje é verdadeiro, o que causa saudade dos filmes em preto e branco. Saudade também da meiga voz de Neide Aparecida, cantando antes da projeção do filme: “Pra matar a saudade da gente vai cantando meu rouxinol…” E saudade do grito da molecada “meu dinheiro” quando a exibição do filme era interrompida por algum defeito, e do “baleiro, bala, baleiro, bala” do vendedor.

O Cine Teatro Iris foi inaugurado em 9 de maio de 1944 graças a uma sociedade formada pelos senhores: Iderval Alves, Felinto Marques de Cerqueira, Teodomiro Alves, Adalberto Constâncio Pereira, Hermínio Francisco dos Santos, Cícero Freitas de Carvalho, Arnold Ferreira da Silva, Eduardo Froes da Mota, Mercedes Freitas de Carvalho e Carlos Rubinho Bahia. Em 1948, o cinema foi vendido por R$400 mil ao empresário Afonso Cavalcante de Carvalho, na época proprietário da maior rede de cinemas do estado. Em 1962, o Iris foi adquirido pelos irmãos Normando e Nilton Barreto, numa transação de R$1.250 mil, pagos em 12 prestações mensais.

No período de 1970 a 1981, o estabelecimento foi arrendado à Distribuidora de Filmes Calumbí e, com o final do contrato, voltou aos irmãos Barreto. O Iris contava com 1.200 assentos e, na época de ouro de Hollywood, entre as décadas de 1940 e 1960, a sociedade feirense ali se reunia elegantemente trajada nas sessões noturnas para assistir a películas como E o Vento Levou, Assim Caminha a Humanidade, Olhai os Lírios no Campo, Os Canhões de Navarone, Casa de Bonecas, com atores do nível de Clark Gable, Ernest Borgnine, Rock Hudson, Doris Day, Ingrid Bergman, Brigitte Bardot, Humphrey Bogart e muitos outros.

Mas os domingos eram da gurizada, da troca e venda de revistas de quadrinhos, dos duelos na grande tela, das fortes emoções, da expectativa que causava o seriado, com o corte no ponto mais emocionante do episódio e o já esperado anúncio conclusivo: “Volta na próxima”. E todos voltavam, porque aquela meninada, durante toda a semana, sonhava em ver o desfecho da história! “Baleiro, bala, baleiro….”

Por: Zadir Marques Porto

Com informações da Secretaria Municipal de Comunicação Social de Feira de Santana

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