A mãe da jovem de 13 anos, que recebeu 21 golpes de faca do próprio pai na última segunda-feira (27), esteve nesta quarta-feira (29) na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), onde conversou com a delegada e pediu ajuda. A mãe da jovem também conversou com a reportagem do Acorda Cidade e relatou o que aconteceu no dia do crime.
Segundo Josiene Tavares dos Santos, 36 anos, que trabalha como manicure, ela teve uma discussão com o marido onde afirmou que estava difícil manter o relacionamento. Ele reagiu de forma agressiva com ela e depois atacou a própria filha.
“Eu tinha dormido na casa da minha mãe, porque fui fazer uma ação na igreja de domingo para segunda. Tentei falar com ele no domingo e não consegui porque ele tinha desligado o telefone. Depois, na segunda, ele me ligou por volta de 11h30 perguntando onde eu estava e eu disse que estava na casa da minha mãe. Ele disse que iria levar o dinheiro do cartão. Minha mãe tinha saído para ir ao médico e ele chegou perto das 13h. Eu perguntei se ele tinha bebido e ele disse que não. Ele alterou a voz e eu chamei ele para conversar do lado de fora, já que minha filha estava dormindo. Eu reclamei porque em plena segunda-feira ele estava bebendo e nem tinha ido trabalhar. E disse que do jeito que estava não ia dar certo a gente continuar. Ele me empurrou, tentou pegar no meu pescoço e eu empurrei ele. Então ele entrou e eu ouvi minha filha gritar”, relatou.
Josiene conta que começou a pedir socorro, por imaginar que ele estaria agredindo a filha fisicamente, mas não imaginava que ele teria pegado uma faca na cozinha da casa da mãe dela e estava atacando a própria filha.
“Apareceu um vizinho e veio me ajudar. Quando o vizinho entrou, ele saiu correndo e o vizinho já pegou minha filha cheia de sangue. Fiquei desesperada quando vi a cena. Aí já veio outro vizinho, colocou minha filha no carro e a gente levou ela para a unidade de saúde. Ele nunca foi agressivo comigo. A gente discutia por motivos de dívidas, mas ele nunca tinha feito isso”, disse a manicure.
Josiene foi à delegacia acompanhada da filha, que está com o rosto bastante machucado. Ela também foi ferida nos dedos, costas e cabeça. Além das facadas, a jovem contou para a mãe que o pai chutou o rosto dela. Ela está com os dois dentes da frente quebrados.
“Quando minha filha melhorar, quero cuidar da mente dela. Eu creio que ela ainda não caiu em si. Às vezes ela brinca, mas sei que isso vai mexer muito com ela, assim como está mexendo comigo. Às vezes não consigo nem dormir, acordo assustada. Ela também está assustada, não quer mais voltar para casa, com medo. Foram 21 facadas”.
Apoio da Deam
A delegada Clécia Vasconcelos, titular da Delegacia da Mulher, informou que a jovem foi encaminhada para uma escuta profissional com um psicólogo. Ela disse que a mãe também está precisando de orientação.
“A menina foi encaminhada para escuta especializada e o que a gente vê é uma menina de 13 anos e uma mãe totalmente destruídas. A mãe se sentindo culpada pelo que aconteceu, porque ela sabe que o infeliz agrediu a menina, que é filha dele, com diversas facadas e ele fez isso só para punir a mãe da menina, porque ele sabe que a mãe preferiria que isso fosse nela do que na filha. As mães pensam assim. Um agressor desse nível, ele é tão perverso que quer atingir a mulher em grau máximo. Ele sabe que é nos filhos que a mulher sente a maior dor”, afirmou.
O agressor foi espancado por populares e continua internado no Hospital Geral Clériston Andrade, onde está custodiado. Clécia disse que quer interrogá-lo antes de ele receber alta. “Ele vai para o presídio, que é o local onde ele deve ficar. Ele foi autuado em flagrante”.
Além da escuta especializada para a jovem e da orientação para a mãe, a Deam também está buscando auxílio para tratar das cicatrizes no rosto da jovem. A delegada Clécia afirmou que sempre conta com profissionais que oferecem atendimentos gratuitos para mulheres que são vítimas de violência.
“A Deam conta com apoio de toda a sociedade, profissionais de boa vontade. Temos casos em que a mulher teve todos os dentes quebrados com alicates. Profissionais na Uefs reabilitaram essa mulher. No caso dessa jovem, ela está sem os dentes da frente, está com cortes no rosto. Imagine essa menina a cada vez que se olhar no espelho, lembrar de tudo isso. Aonde ela chegar alguém vão apontar, porque as pessoas vão se questionar e não vão imaginar que foi o próprio pai e ela não teve culpa nenhuma. Então eu começo um movimento para que profissionais de boa vontade ajudem essa menina desde agora no tratamento, porque depois que cicatrizar vai ficar mais complicado. E a gente sempre consegue, graças a Deus”, disse.
Clécia ainda falou sobre o papel da sociedade e trouxe uma reflexão. “Ajudar essa menina é meu papel como ser humano, como mulher. A gente se intitula tanta coisa, mas basta ser humano e o ser humano precisa desenvolver empatia. Não basta eu mandar esse inquérito para a justiça. A mãe precisa de ajuda e a gente vai negar? Graças a Deus, Feira de Santana tem muita gente que ajuda e tem nos dado suporte. Violência contra a mulher não é mimimi. Isso é machismo. Nem um animal faz isso, porque os animais defendem as crias. E isso é para que a gente faça uma reflexão. Para onde estamos indo? Que sociedade é essa?”, questionou.
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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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