Nesta segunda-feira, dia 20 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional da Parteira Tradicional, uma data que homenageia as mulheres que mantêm viva uma das mais antigas práticas da humanidade: o ofício de parteira. Em Feira de Santana, Maria Cruz dos Santos, de 75 anos, mais conhecida como Maria Parteira, é uma dessas mulheres que representa essa tradição, com uma trajetória marcada por dedicação e carinho, ajudando a trazer ao mundo inúmeras vidas.
Moradora da Fazenda Lagoa Grande, no distrito de Maria Quitéria, dona Maria contou em entrevista ao Acorda Cidade que aprendeu o ofício conforme a necessidade. “Entrei na função quando as parteiras morreram todas. Até a minha parteira, que fez o parto do meu primeiro filho, ficou cega devido à diabetes e não tinha ninguém para fazer os partos”.
Apesar de ser neta de uma parteira famosa na região, que inclusive foi responsável por seu parto, dona Maria afirma que não tinha nenhuma experiência, por isso buscou qualificação. “Eu levava as mulheres para a maternidade, trazia, e aí surgiu um curso de parteira que era de 15 em 15 dias. Fui treinada na Casa de Saúde Santana, no Dom Pedro de Alcântara. A gente treinava com as enfermeiras e com as médicas”.
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Assim, dona Maria se tornou Maria Parteira e foi responsável pelo nascimento de várias crianças. Ela afirmou ao Acorda Cidade que, inicialmente, anotava todos os partos que realizava, mas perdeu a conta. “Anotei até uma média de 150, depois perdi as contas”.
Hoje, além dos cinco filhos que pariu, ela tem vários filhos na comunidade, que carinhosamente a chamam de mãe Maria. “Já tem muitos adultos. Eu já fiz o parto dos filhos de mulheres que também realizo parto”, conta.
Apesar de atualmente não trabalhar mais como parteira, dona Maria continua ajudando as mulheres no cuidado com os recém-nascidos e, se houver necessidade, ela afirma que ainda realiza partos. “Ajudo quem me pede orientação com amamentação, por exemplo. Deixei de ser parteira porque, com as mudanças que ocorreram com o tempo, agora a criança já sai do hospital com registro. A criança que nasce em casa, para registrar, é um trabalho: eu tenho que ir ao cartório servir como testemunha de que fui eu que fiz esse parto.”
Questionada se é difícil fazer um parto, dona Maria respondeu que não e contou que sempre atendeu mulheres corajosas. “Nunca encontrei uma mulher covarde”, relata. Ela também lembrou que o que mais gostava nos partos era poder ajudar e orientar as mulheres. “Se havia necessidade de alguma coisa que eu pudesse ajudar, eu ajudava e acompanhava até o umbigo do bebê cair. Eu dava banho, tinha criança que levava até 15 dias para cair o umbigo e eu ia caminhando para dar esses banhos.”
Com uma vida simples na roça, dona Maria, que nunca cobrou por nenhum parto, orgulha-se de suas raízes. “Eu costurei por 32 anos e trabalhava na roça, me aposentei e hoje vivemos com o pouco que temos da roça. A gente vai levando a vida, não temos dificuldade nenhuma para viver, afirma.”
E sob o olhar de quem ajudou tantas vidas virem ao mundo, dona Maria deixa uma mensagem para os mais jovens que moram na zona rural: “Que eles valorizem a roça. A zona rural é melhor que na cidade. Meus filhos até hoje moram aqui, é muito bom morar na roça.”
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