Ao longo de 2024, a alta no preço do café vendido no Brasil ligou o sinal de alerta entre produtores e consumidores. A bebida passou de item indispensável na compra do mês para quase se tornar um artigo de luxo. Fatores como a valorização da moeda americana, eventos climáticos e problemas logísticos agravados no período da pandemia do coronavírus podem ajudar a entender o movimento de alta.
O status de maior produtor de café do mundo não livra o Brasil de conviver com problemas que impactam diretamente a produção do fruto. Para entender melhor o que pode ter contribuído para o aumento do preço do grão, o Acorda Cidade conversou com Carlos Eduardo Silva, diretor executivo de uma indústria produtora de café na Bahia, que explicou que o comportamento é resultado de diversas variáveis.
“Antes da pandemia, a gente já estava percebendo essa modificação de comportamento. Eventos climáticos extremos contribuíram bastante, porque o Brasil sofreu muito nos últimos cinco anos, com geadas e secas. Isso também aconteceu no Vietnã, Colômbia e Indonésia, países que produzem café e suprem a demanda mundial”, disse Carlos Eduardo.
Influência de fatores externos
De acordo com o executivo, o Brasil produziu na safra de 2024 cerca de 54,7 milhões de sacas de café. E a previsão para os próximos dois anos é animadora. Espera-se que a produção para 2025-2026 bata o recorde e atinja a casa de 67 milhões de sacas. Uma saca corresponde a 60 kg do grão.
Só que a fama de maior produtor, e local onde são cultivadas algumas das melhores sementes, atrai a cobiça de agentes internacionais. A atuação dos trades, negociadores que compram o produto para estocar e vender em momentos de alta, também impacta o preço do café.
“A gente tem visto as trades vindo para o Brasil com muita força, comprar o café brasileiro e levar para outros lugares. Porque, quando você tem força de compra maior, você tem uma prioridade”, disse Carlos.
A força do dólar
O executivo explicou que a valorização do dólar, moeda dos Estados Unidos, também contribuiu bastante para o aumento do preço do café internamente. Atualmente custando pouco mais de R$ 6, a moeda chegou a acumular em 2024 uma alta de 27,03% frente ao real brasileiro, segundo o Banco Central.
“A bebida brasileira é muito boa e a gente sofre com essa especulação financeira. O pequeno produtor já descobriu quanto o café dele vale em dólar. Então, quando chego para negociar com os mesmos fornecedores de antigamente, eles estão dizendo: ‘Não, vou deixar o café aqui que vai aparecer uma pessoa que vai para fora do país e vai me pagar não sei quantos dólares, não sei quantos euros numa saca de café’”, disse Carlos.
Crescimento da demanda
Um dos conceitos econômicos mais difundidos é a Lei da oferta e da demanda, que diz que a procura por determinado produto, assim como a quantidade disponível para venda, influencia diretamente no preço.
Por isso, na época de alta produção de mangas, o produto fica tão barato, pois aumenta o número de frutas disponíveis para compra. Da mesma forma, nos períodos chuvosos, hortaliças têm alta de preço, pois o volume excessivo de água sobre as lavouras impede o desenvolvimento das folhas e faz com que o número de hortaliças no mercado diminua.
E no caso do café brasileiro, o preço está sendo influenciado por dois movimentos na balança da lei da oferta e demanda. Se a preferência por exportar e as mudanças climáticas já afetam o preço, o crescimento da procura faz com que o movimento de alta se intensifique.
“O crescimento do consumo está impactando o preço, trazendo uma matemática bem pressionada para a indústria de café. Tivemos, nesses últimos tempos, nas duas pontas, aumento do consumo mundial — Escandinávia 30%, Brasil 33% — e ao mesmo tempo, a oneração de 35% a 45% dos valores”, disse o executivo.
Escassez de mão de obra
Outro ponto levantado pelo executivo é a dificuldade de encontrar mão de obra disponível para o trabalho no campo. “Você percebe hoje que o cara que era um catador de café, um colhedor de café, ele não quer mais trabalhar porque o salário que ele ganharia nesse período da safra, ele está ganhando em casa com os auxílios do governo”.
Formas de sobrevivência
Eduardo revelou, em entrevista ao Acorda Cidade, que uma das alternativas para driblar as perdas e dificuldades com a produção de café foi investir na marca através de uma releitura nos produtos e apostar no método tradicional.
“Para a indústria Tabajara, nós só encontramos um caminho: reposicionar o produto. Nós saímos dessa briga de cafés de combate, cafés de prateleira, porque nós temos o café puro. Nós usamos grãos especificamente da Chapada Diamantina. Migramos o café Tabajara para o café premium e moído na hora. As pessoas estão começando a adquirir as máquinas de moagem de café Tabajara. Nós temos uma responsabilidade muito grande com a rastreabilidade dos nossos grãos, então utilizamos grãos de café mesmo para fazer os nossos cafés”, concluiu Carlos, afirmando que a fábrica irá lançar uma edição comemorativa dos 80 anos da marca com os Cafés Prêmios Especiais Tabajara.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão do jornalista Gabriel Gonçalves
Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram